Ele estava disposto e havia, no seu rosto, um sorriso laico naquela manhã. Foi comprar o pão e meia quarta de manteiga para o café da manhã na sua casa. Ele, sua irmã Paula, o pai e sua mãe. No café o silêncio habitual para leitura do jornal que seu pai fazia. Rigoroso leitor e rigoroso também em gostar do silêncio no momento de sua leitura. Seus comentários nem sempre alegravam a mesa no momento das refeições: “ - merda de lei”; “ - só desgraça!”; “ - é um canalha mesmo, um verme canalha”...
Mas hoje, nada iria decepcioná-lo ou entristecê-lo, nem mesmo a mudez de sua mãe, até mesmo depois da leitura do jornal. Era o seu dia, só queria que o momento do café passasse o mais rápido possível. Para logo pegar sua mochila e merendeira e ir a caminho da sua escola. Hoje porem, dentro da sua mochila, havia um presentinho especial para os moleques da sua turma que vivem mexendo com ele. Ele guardou sua pistola.- eh! a sua pistola poderia livrá-lo de uma vez por todas dos incômodos dos moleques chatos e inconvenientes e daquela menina que rio no dia em que colocaram chiclete nos cabelos dele....
Em 1985, os professores das escolas não tinham, na fala, poder para conter aqueles moleques. Bem diferente de 1975, como sua tia contava. Uma vez essa sua tia, que é professora, veio visitá-los e falou quando conversava na sala com seus pais, enquanto ele via TV : “- escola ? é o inferno !”
… assim que chegou na escola já estavam todos na sala de aula. Olhou pelo janelinha da porta da sala de aula ( toda sala de aula tem, mas nunca soube bem para que servia), mas ali teve utilidade pra ele.
E tudo aconteceu em segundos como uma película de filme. Abriu sua mochila e puxou sua semiautomática, e, tirando os pentes reservas colocou-os na cintura. O sorriso aumentava em sua face, olhando o seu reflexo que suvamente aparecia no vidro da janelinha da sala de aula, via seu semblante envelhecido. Abriu a porta da 302, sua sala, que mais parecia um caldeirão de humilhações do que uma sala para se aprender. E ao entrar, viu o espanto de todos, e viu que todos estavam disfarçados tão bem que quase não os reconhecia. Mas sabia que era mais uma das peças que queriam pregar nele. Então começou a mandar chumbo na molecada toda, começando pelos que estavam junto com a professora a mesma que não fez nada quando ele reclamou do chiclete, dos apelidos, das bolas de papeis. Depois virou para a classe procurando todos os encrenqueiros. Agora não tinha um só amigos. Era ele e sua risada enlouquecida de vinte e poucos anos...
meu luto as crianças do Realengo
O ensino, na cabeça dos professores, precisa urgentemente ser repensado. Ele já esta no papel e feito...
0 comentários:
Postar um comentário